terça-feira, 5 de junho de 2012

O Relógio


O colégio onde eu estudava quando menina, costumava encerrar o ano letivo com um espetáculo teatral.

Eu adorava aquilo, porém nunca fora convidada para participar, o que me trazia uma secreta mágoa.

Quando fiz onze anos avisaram-me que, finalmente iria ter um papel para representar.

Fiquei felicíssima, mas esse estado de espírito durou pouco.

Escolheram uma colega minha para o desempenho principal.

A mim coube uma ponta de pouca importância.

Minha decepção foi imensa.

Voltei para casa em prantos.

Mamãe quis saber o que se passava e ouviu toda a minha história entre lágrimas e soluços.

Sem nada dizer ela foi buscar o bonito relógio de bolso de papai e colocou-o em minhas mãos, dizendo :

— Que é isso que você está vendo ?

— Um relógio de ouro com mostrador e ponteiros.

Em seguida mamãe abriu a parte traseira do relógio e repetiu a pergunta :

— O que você está vendo ?

— Ora mamãe, aí dentro parece haver centenas de rodinhas e parafusos.

Mamãe me surpreendia, pois aquilo nada tinha a ver com o motivo do meu aborrecimento.

Entretanto, calmamente ela prosseguiu :

— Este relógio tão necessário ao seu pai e tão bonito seria absolutamente inútil se nele faltasse qualquer parte, mesmo a mais insignificante das rodinhas ou o menor dos parafusos.

Nós nos entrefitamos e no seu olhar calmo e amoroso, eu compreendi que sem que ela precisasse dizer mais nada.

Essa pequana lição tem me ajudado muito a ser mais feliz na vida, aprendi com a máquina daquele relógio quão essenciais são mesmo os deveres mais ingratos e difíceis, que nos cabem a todos.

Não importa que sejamos o mais ínfimo parafuso ou a mais ignorada rodinha, desde que o trabalho, em conjunto, seja para o bem de todos.

E percebi também que se o esforço tiver êxito o que menos importa são os aplusos exteriores.

O que vale mesmo é a paz de espírito do dever cumprido.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

4 comentários:

Misturação - Ana Karla disse...

Teresa essa reflexão é perfeita.
Estou a pensar a quantas já fui apenas um pequeno parafuso, mas fundamental para o todo.
Xeros

chica disse...

Puxa que lindo texto esse com uma bela mensagem.Vale mesmo muito a sensação de termos feito nosso melhor...beijos,chica

ONG ALERTA disse...

Importante é cada um fazer bem feito os eu papael, náo importa a importancia do papel.
Beijo Lisette.

Milton Kennedy disse...

Bom dia Teresa Cristina, um ótimo sábado pra ti.
Sempre com instrutivas postagens. Excelente a lição sobre as pequeninas partes. Abraços, saúde e paz interior.

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